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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Lembra-te de Coburgo - O Noivado de Nicolau e Alexandra

Membros de várias famílias reais europeias reunidos em Coburgo para o casamento de Ernesto Luís de Hesse com a princesa Vitória Melita, Coburgo, Abril de 1894
O czarevich Nicolau Alexandrovich chegou à maioridade a 6/18 de Maio de 1884, o dia em que completou dezasseis anos de idade e prestou o seu Juramento de Lealdade com grande pompa e circunstância no Palácio de Inverno. "O czarevich vestiu o uniforme azul dos Cossacos da guarda, uma vez que é o seu comandante," escreveu o The Graphic, "tinha um aspecto muito jovem e pequeno para ser o protagonista de uma cerimónia tão grandiosa, mas possui também um rosto alegre e inteligente, e é muito parecido com a mãe. Como na família Romanov, a maioria das pessoas é alta e imponente, a sua estatura baixa parece excepcional. Na igreja, ele caminhou sozinho e com coragem pelo altar e, com a mão direita pousada em cima da Bíblia encrostada de jóias, e da cruz de ouro, repetiu em voz audível e firme, o juramento que o padre lhe ia comunicando e que começava da seguinte forma: 'Em nome de Deus, todo poderoso, e pela a sua santa palavra, juro e prometo servir Sua Majestade Imperial, o meu gracioso pai, bem e de forma sincera', e terminava com: 'o meu coração está em tuas mãos, Senhor, Amén'".

Nicolau II enquanto czarevich
Apenas algumas semanas depois da cerimónia, Nicolau conheceu a jovem com quem se viria a casar. A princesa Alice de Hesse tinha doze anos de idade, e estava na Rússia para assistir ao casamento da sua irmã, Isabel, com o tio de Nicolau, o grão-duque Sérgio Alexandrovich. Alice e Nicolau gostaram imediatamente um do outro e a sua atracção inocente acabaria por florescer para algo mais sério quando a princesa voltou a visitar o país em 1889, altura em que Nicolau decidiu que queria casar com ela e discutiu essa possibilidade com o pai. A sua mãe teria preferido que ele se casasse com uma princesa francesa, mas Nicolau não queria sequer ouvir falar no assunto. Quando viram a determinação do filho, ambos os pais acabaram por ceder e dar a sua bênção a Nicolau. No entanto, com o passar dos meses e dos anos, continuava a haver um obstáculo ao seu casamento. Na primavera de 1894, chegou o momento crítico quando o jovem casal teria de decidir o seu destino, de uma forma ou outra.

Alice em 1885, um ano depois de conhecer Nicolau.
O ano de 1894 começou calmamente na família imperial, sem nenhum sinal de que haveria mudanças nos meses próximos. Alexandre III sentia-se doente, mas ninguém estava demasiado preocupado e as comemorações do Ano Novo continuaram como de costume. O czarevich foi beber com o seu tio Vladimir uma noite em Janeiro e, algumas semanas depois, divertiu-se numa das famosas festas da grã-duquesa Maria Pavlovna que duravam toda a noite. É possível que os Vladimirovich soubessem da infelicidade que o seu sobrinho sentia na sua vida privada. Já há quase cinco anos que ele tentava convencer a princesa Alice de Hesse a casar com ele, mas ela não se sentia preparada para se converter à religião Ortodoxa. No caso da esposa de Nicolau, uma futura czarina, não havia espaço para o tipo de excepções que Alexandre II tinha concedido no seu tempo: a czarina tinha de ser ortodoxa. Nicolau sabia que Alice o amava, mas também que ela tinha prometido ao pai que nunca se iria converter a outra religião, e, quando ele morreu na primavera de 1892, levou consigo toda a possibilidade de discutir o assunto ou de mudar de opinião. Para Alice, o assunto trazia uma onda de emoções dolorosas que ela preferia evitar completamente. Em Junho de 1893, decidiu não estar presente no casamento do seu primo, o duque de Iorque [o futuro rei Jorge V] porque sabia que Nicolau estaria lá. Em Novembro desse ano, enviou-lhe uma carta com a sua recusa final, mas Nicolau não estava pronto para desistir e continuava a esperar a oportunidade de se encontrar com ela para discutir o assunto pessoalmente. O casamento do irmão de Alexandra, Ernesto, estava marcado para Abril de 1894, em Coburgo, e era impossível ela não estar presente.

Alice com o seu pai, o grão-duque Luís IV de Hesse-Darmstadt.
À medida que o dia do casamento se aproximava, Coburgo estava em modo festivo. As ruas vibravam com as cores dos estandartes, bandeiras e coroas de flores, além de dois arcos triunfais que foram construídos no caminho entre a estação e o Schloss Platz, à medida que a pequena cidade se preparava para receber uma festa familiar a grande escala. O casamento da segunda filha do duque Alfredo de Saxe-Coburgo-Gota com o seu primo, o jovem grão-duque Ernesto Luís de Hesse, iria juntar primos, tios e tias da realeza de toda a Europa.

Vitória Melita e Ernesto Luís no dia do seu casamento
De Darmstadt, partiram o noivo, o seu tio Guilherme de Hesse, e Alix: as suas três irmãs mais velhas Vitória, Ella e Irene já estavam todas casadas e iriam juntar-se ao resto da família em Coburgo, assim como os seus maridos, que eram todos parentes do casal directamente e por casamento. O kaiser Guilherme II também partiu de Berlim, juntamente com a sua mãe, a imperatriz-viúva Vitória, a sua irmã Carlota e o marido dela, o duque Bernardo de Saxe-Meiningen (a filha deles, Feodora, era uma das damas-de-honor), o irmão dele, Henrique, marido da princesa Irene de Hesse, a sua prima Maria Luísa e o marido dela, Humberto de Anhalt. A maioria dos convidados iria ficar hospedada no Schloss Ehrenburg, o palácio principal da cidade, onde se iria realizar o casamento.

A família de Hesse-Darmstadt por volta de 1887 (sentados estão a princesa Irene de Hesse-Darmstadt, a grã-duquesa Isabel Feodorovna, a princesa Alice de Battenberg, a princesa Vitória de Battenbergo grão-duque Sérgio Alexandrovich e o grão-duque Luís IV de Hesse. Em pé, o príncipe Ernesto Luís, o príncipe Luís de Battenberg e a princesa Alice de Hesse-Darmstadt).
A 16 de Abril, chegaram os convidados russos. A mãe da noiva era a grã-duquesa Maria Alexandrovna, filha do czar Alexandre II, o que, por si só, já teria sido o suficiente para ter um grande número de convidados Romanov presentes na cerimónia. Oficialmente, o grupo que esteve em Cobrugo era composto pelo grão-duque Vladimir Alexandrovich, a sua esposa Maria Pavlovna, o grão-duque Sérgio Alexandrovich e a sua esposa Isabel, e o grão-duque Paulo Alexandrovich. Não se esperava que o czarevich estivesse presente e ele chegou mesmo a duvidar se deveria ir. No dia marcado para a sua partida, a irmã dele, a grã-duquesa Xenia Alexandrovna, recebeu uma carta de Alice onde ela mais uma vez salientava que nunca se iria converter à Igreja Ortodoxa e onde pedia que a deixassem em paz. A carta foi um golpe terrível para Nicolau, mas a sua mãe insistiu para que ele fosse na mesma e que aproveitasse aquela última oportunidade. Já há vários anos que também Sérgio e Isabel o encorajam, assim como Vladimir e Maria, e a sua mãe também o aconselhou a tentar colocar a velha avó de Alice, a rainha Vitória, do seu lado. O grupo viajou de comboio em três vagões-cama e atravessou a fronteira com a Alemanha nessa mesma noite. Foram recebidos na estação de Coburgo pelo duque e pela duquesa de Saxe-Coburgo-Gota e por três dos seus filhos: Maria (a futura rainha da Roménia), Vitória Melita e Alfredo, que estavam acompanhados também de Ernesto Luís e Alice. Quando os cumprimentos foram todos trocados, o grupo seguiu viagem para o Palais Edinburg, a residência oficial dos duques, onde se realizou um jantar em família e assistiram a uma operetta.

Nicolau e Alexandra em Coburgo por volta de 1900. Com eles estão os grão-duques André, Cyrill e Boris Vladimirovich, assim como o grão-duque Ernesto Luís, a princesa Vitória Melita e o príncipe Nicolau da Grécia e Dinamarca.
Na manhã seguinte, Nicolau teve a conversa com Alix pela qual ansiava e que temia. Ela não estava à espera de o ver chegar à estação com os tios e tias e o seu primeiro instinto tinha sido fugir, mas a grã-duquesa Isabel reagiu rapidamente e convenceu-os a encontrarem-se. Durante duas horas, a família deixou Nicolau e Alix sozinhos nos aposentos de Isabel, mas foi um encontro pouco satisfatório e cheio de lágrimas. "Ela esteve sempre a chorar", escreveu Nicolau à mãe, "e só sussurrava de vez em quando que não podia". Depois do almoço, Nicolau saiu com o grão-duque Sérgio e a grã-duquesa Isabel e, mais tarde, foi dar uma caminhada com o grão-duque Vladimir. À medida que toda a vila de Coburgo se preparava para receber a convidada mais importante de todas, a cabeça do czarevich estava ocupada apenas pelo seu futuro e, embora tenha descrito o momento em que deixou Alix como "mais calmo", no seu diário, é provável que se sentisse desapontado e sem saber o que deveria fazer a seguir.


Alix de Hesse-Darmstadt
Às 16:30, a rainha Vitória chegou de Itália acompanhada do príncipe e da princesa Henrique de Battenberg [a sua filha mais nova, Beatriz, e o marido]. À medida que o comboio abrandava na estação, as nuvens dissiparam-se e a velha senhora lembrou-se imediatamente do momento em que o seu falecido marido, o príncipe Alberto, a tinha levado pela primeira vez a Coburgo, quarenta anos antes. Agora o duque de Coburgo era o filho deles e ela estava prestes a assistir ao casamento de dois dos seus netos que o seu marido nunca tinha conhecido. Foi o duque Alfredo que a recebeu na estação, na companhia da sua esposa e dos seus filhos, incluindo a noiva. O kaiser tinha dado ordens para que um esquadrão do 1.º Corpo de Guardas Dragões da Prússia fosse a guarda-de-honra da rainha, e senhoras vestidas de branco encheram a carruagem de flores à medida que ela passava pelas ruas da vila. À chegada, a rainha teve direito a receber as boas-vindas do presidente da câmara e a uma marcha militar em frente ao Palais Edinburg antes de chegar ao Schloss, onde já se encontravam os convidados prontos para receber a rainha. Nicolau também estava lá, vestido no seu uniforme, e os dois foram apresentados, mas ainda não era a altura ideal para terem uma conversa privada. No entanto, de qualquer forma, a ideia que a mãe dele tinha de que a rainha Vitória o poderia ajudar, estava um quanto desajustada. Por muito que ela gostasse de Nicolau como pessoa, a rainha Vitória tinha muitas dúvidas relativamente a casamentos russos e era sempre contra eles.

Alix (segunda da esquerda) com a avó Vitória, o primo Eduardo Vítor, a tia Beatriz e a irmã Irene.
Na manhã seguinte, Nicolau foi dar uma caminhada de manhã cedo com o grão-duque Vladimir pelo caminho que levava até ao museu de armaduras do Veste, o antigo castelo onde Martinho Lutero tinha procurado abrigo dos seus inimigos. Estava a preparar-se para outro encontro com Alix depois do pequeno-almoço. Ainda marcado pelo encontro do dia anterior, tentou falar o menos possível do assunto de casamento, apesar de lhe ter entregue uma carta da mãe, que tinha a esperança de poder influenciá-la de alguma forma. Alix também estava a ser cada vez mais pressionada pelos membros da sua família. O seu irmão encorajou-a a encontrar-se em privado com Maria Pavlovna, e tanto ele como os outros deram tantas garantias a Nicolau que o jovem apaixonado e desapontado começou a sentir que algo iria correr mal.


Nicolau II
A tarde trouxe o alívio que estava a fazer tanta falta, quando os convidados viajaram até Rosenau, nos arredores da vila, para passar uma tarde relaxante que acabou com um chá. "Divertimo-nos muito quando conseguimos finalmente convencer o lacaio-chefe a cantar duas ou três canções", escreveu Nicolau, "começou a cantar na torre e acabou atrás dos arbustos". O kaiser chegou nessa noite e ficou hospedado em aposentos no Palais Edinburg. Esteve acordado até altas horas da noite a conversar com Nicolau e revelou que também apoiava completamente o plano do casamento e sugeriu que a situação se podia tornar mais fácil para Alix se os russos permitissem uma versão mais suave da fórmula de renúncia arcaica à qual ela se teria de submeter caso decidisse converter-se.

Nicolau II e Guilherme II
A manhã do casamento estava calma e cinzenta, mas os céus não demoraram a abrir e as ruas encheram-se de pessoas, ansiosas por ver a família ducal e a realeza a sair dos palácios que rodeavam a vila até ao Schloss Ehrenburg. Depois da longa conversa que teve com Guilherme na noite anterior, Nicolau chegou atrasado ao pequeno-almoço e teve de ir a pé e sozinho até ao Schloss Ehrenburg, furando entre as multidões que enchiam as ruas. Ás onze da manhã, os noivos fizeram os seus votos civis numa cerimónia discreta realizada no quarto da avó. É provável que a rainha tenha ficado emocionada quando viu Vitória Melita a usar o mesmo véu que a sua filha Alice tinha usado mais de trinta anos antes. Entretanto, os convidados que não faziam parte da realeza e a guarda de honra prussiana iam ocupando os seus lugares na capela, que estava decorada com coroas de galhos de abetos verdes e flores brancas. Pouco depois do meio-dia, a banda que estava instalada no quintal começou a tocar o hino nacional da Alemanha. A música assinalou o início da procissão real, liderada pelo kaiser e pela duquesa de Saxe-Coburgo. Quando estavam todos nos seus lugares, o duque Alfredo levou a sua filha pelo altar da capela juntamente com as suas duas damas-de-honor: a sua irmã Beatriz, que no dia seguinte fazia dez anos de idade, e a princesa Feodora de Saxe-Meiningen, sobrinha do kaiser, de treze anos de idade. Havia cinco clérigos na capela, mas a maior parte da cerimónia foi celebrada pelo capelão da corte de Darmstadt, o Dr. Müller. Os convidados reparam que ele se emocionou com a ocasião e a sua voz estava muito afectada quando deu as bênçãos.



Vitória Melita e Ernesto Luís
Depois da missa, os convidados seguiram para um pequeno-almoço de casamento que se realizou na sala do trono, e às 15:30, a paciência da multidão que esperava desde manhã foi recompensada quando uma carruagem decorada com flores apareceu na Schloss Platz, pronta para levar o jovem casal até à estação. Um grupo da realeza feliz e relaxado despediu-se deles, a rir e a dar vivas entre chuvas de arroz, e ninguém se opôs aos pedidos dos fotógrafos locais para fotografias. Até o príncipe de Gales [futuro rei Eduardo VII] se colocou em fila com os irmãos para ser fotografado. Ernesto Luís levou a sua nova grã-duquesa para casa, em Darmstadt, onde os dois entraram de forma triunfal na manhã seguinte, viajando numa carruagem aberta pelas ruas da cidade, decoradas com bandeiras e coroas de flores. As comemorações continuaram lá durante vários dias. Era a primeira vez que Darmstadt via comemorações daquele calibre desde a morte da princesa Alice, dezasseis anos antes, e o futuro parecia brilhante para o casal.

A rainha Vitória com alguns dos seus filhos (Vitória, imperatriz-viúva da Alemanha, o príncipe Artur, o príncipe Alfredo e o príncipe de Gales) e o neto, o kaiser Guilherme II da Alemanha, no casamento de Vitória Melita e Ernesto Luís.
Em Coburgo, a festa da família também continuava, e a tensão estava a aumentar para o czarevich. Ao longo de toda a missa, não tinha conseguido deixar de pensar em Alix, que estava sentado duas filas atrás dele, perto do altar. A tensão emocional em casamentos era sempre grande, no entanto, para Nicolau, que andava entre a esperança e o desespero, o sermão do Dr. Müller "foi directo ao meu problema. Naquele momento, quis, mais do que tudo, conseguir ver o que vai na alma da Alix". É provável que não se tenha apercebido de que era aquele mesmo clérigo, o capelão da família de Alix, que a tinha convencido várias vezes de que mudar de religião era um pecado. Nessa tarde, Nicolau e o seu tio, o grão-duque Vladimir, deram um passeio a pé até ao Veste e passaram muito tempo a explorar a sala das armas. Houve um pequeno jantar de família no Palais Edinburg e, depois, os dois foram ao teatro a pé, a correr para tentar fugir à chuva que tinha começado a cair.

Alix, Vladimir Alexandrovich, Maria Pavlovna e Nicolau II
Na manhã seguinte, dia 20 de Abril, os pesos pesados foram tentar convencer Alix. O kaiser, seu primo, teve uma conversa em privado com ela antes de a acompanhar até ao Palais Edinburg para se encontrar com a grã-duquesa Maria Pavlovna. Seria difícil imaginar uma situação mais icónica do que esta: a imperatriz-viúva da Alemanha, Vitória, estava muito divertida com o papel que o seu filho, o kaiser, estava a ter no assunto, uma vez que, poucos anos antes, tinha visto a conversão da sua irmã, a princesa Sofia, à Igreja Ortodoxa Grega como um pecado mortal. Maria Pavlovna também se tinha gabado abertamente do facto de se ter recusado a converter quando se casou com um Romanov. Mas nenhum deles tinha a capacidade de se rir das suas próprias inconsistências: neste caso a única coisa que queriam era ficar com a melhor imagem possível junto do jovem que, um dia, iria governar a Rússia, e da sua futura esposa, e essa era a única coisa que conseguiam ver. Às dez da manhã, o kaiser deixou Alix com Maria e, pouco depois, as duas mulheres juntaram-se ao resto do grupo russo: depois, todos se retiraram para uma sala ao lado, deixando Nicolau e Alix sozinhos. Finalmente, Alix cedeu e aceitou a proposta de Nicolau.

Alix e Nicolau no dia do seu noivado, em Coburgo.
A tensão dos dias anteriores evaporou-se imediatamente. "Para mim, o mundo inteiro mudou", escreveu Nicolau "a natureza, a humanidade, tudo. E tudo parece ser bom e cheio de amor e felicidade. Nem sequer conseguia escrever, as minhas mãos tremiam tanto". Todos os pormenores desse dia ficaram para sempre gravados nas suas memórias, e foram recordados várias vezes ao longo dos anos:

"Sabes que guardei o vestido de princesa cinzento que usei naquela manhã?"

"Tanto quanto me lembro, houve um concerto em Coburgo nessa noite e havia uma banda da Baviera a tocar. O pobre tio Alfredo estava tão cansado à hora do jantar que estava sempre a deixar cair a bengala com um grande estrondo. Lembras-te?"

"Ainda sinto o tecido do teu fato cinzento, o cheiro dele quando estávamos sentados naquela janela no castelo em Coburgo. Lembro-me de tudo muito nitidamente. Daqueles doces beijos com os quais tinha sonhado durante tantos e tantos anos e que pensei que nunca conseguiria ter".

"Lembra-te de Coburgo e de tudo o que passámos".

 
Fotografia de noivado de Nicolau e Alix
Havia uma pessoa que não fazia ideia de que tudo isto estava a acontecer e, caso Alix quisesse realmente recusar o pedido de Nicolau, poderia ter recorrido directamente a ela para pedir ajuda: a sua avó, a rainha Vitória. A velha rainha tinha feito todos os possíveis para encontrar um marido inglês ou alemão para a sua neta e ficou admirada quando a grã-duquesa Isabel a foi visitar ao seu quarto pouco depois do pequeno-almoço e lhe deu a notícia do noivado. Ainda com lágrimas de felicidade no rosto, Isabel abriu a porta e deixou entrar o casal feliz. No entanto, apesar das suas reservas, a rainha aceitou o que tinha acontecido e ficou bastante comovida com a atitude de Nicolau e a sua alegria óbvia. Um grupo de jornalistas interceptou o kaiser quando ele passava pela Schloss Platz a caminho de uma visita ao duque e à duquesa de Saxe-Coburgo-Gota e também ele "parecia rebentar de felicidade" quando lhes deu a notícia. Quando acabou o encontro com a rainha, o jovem casal regressou ao Palais Edinburg para um almoço de família e uma missa de acção de graças celebrada na capela privada da duquesa de Saxe-Coburgo-Gota, que tinha mantido a sua religião ortodoxa depois de se casar com o príncipe Alfredo.

Nicolau e Alix
Os acontecimentos daquela manhã devem ter ofuscado por completo as restantes comemorações do dia. A princesa Beatriz de Saxe-Coburgo-Gota fazia dez anos de idade e tinha sido organizado um baile no Rosenau para essa tarde, no qual estiveram presentes quase todos os convidados. Nicolau esteve presente, embora tenha preferido trocar as danças por um passeio a sós com Alix pelos jardins. Foram chamados fotógrafos para registar o noivado, e tiraram algumas das fotografias mais conhecidas tanto do casal a sós como com o restante grupo.

A princesa Beatriz de Saxe-Coburgo-Gota.
A partir de então, os dias passaram a correr, numa roda viva de jantares, concertos,  passeios e, no caso de Nicolau e Alexandra, uma montanha de telegramas para responder. O kaiser partiu no dia do noivado, mas sem antes tirar uma série de fotografias de grupo no jardim do Palais Edinburg, com a mãe e a avó no centro. Quando estava em Coburgo, os pensamentos da rainha nunca se desviavam muito do príncipe Alberto e ela tinha tirado algum tempo para visitar os locais que ele lhe tinha apresentado muitos anos antes. Antes de o grupo se separar, também deu um jantar e o concerto para as três gerações dos seus descentes, a maioria dos quais nunca tinha conhecido Alberto. No dia 22, houve mais uma celebração em família: era o dia do nome do grão-duque Vladimir e os russos deram-lhe presentes de manhã, antes de ele e a sua esposa partirem para São Petersburgo, levando consigo, com muito orgulho, cartas da parte de Nicolau e Alix para o czar e para a czarina.

A conhecida fotografia da rainha Vitória e da sua família tirada no dia de noivado de Nicolau e Alexandra.
Na Rússia, a notícia do noivado foi recebida com alegria e com um grande sentimento de alívio. "Não há palavras para descrever o prazer e grande alegria com os quais recebi a notícia!", escreveu a czarina ao seu filho, "Quase desmaiei de alegria! (...) Tínhamos esperado com um sentimento tão grande de desespero quando foste para aí que tinha o coração a sangrar quando te vi partir, e os meus pensamentos e orações nunca te abandonaram". O czar também lhe escreveu alguns dias depois: "tenho de admitir que não acreditei que este desfecho fosse possível e tinha a certeza que a tentativa ia falhar por completo, mas o Senhor guiou-te, deu-te força e abençoou-te, e agradeço-Lhe muito pela sua misericórdia. Quem me dera que tivesses visto a alegria e júbilo com que todos receberam a notícia". O seu primo, o grão-duque Constantino, esteve na missa do Domingo de Ramos em Gatchina a 11/22 de Abril e escreveu no seu diário: "Já não via a imperatriz tão radiante há muito tempo. O noivado do Nicky foi uma alegria para todos os russos que já há muito que esperavam que ele assentasse na vida de casado". Estavam todos ansiosos por voltar a ver o czarevich e dar-lhe os parabéns em pessoa, mas, ao contrário dos tios, ele não ia regressar directamente para a Rússia.

Alexandre III, Maria Feodorovna e Xenia
Após as emoções daqueles dias, Alix estava ansiosa por voltar a ver o irmão e voltar para casa, por isso, às 16:30 de dia 22 de Abril, apanhou o comboio para Darmstadt na companhia de Nicolau, das irmãs e dos cunhados, o grão-duque Sérgio e o príncipe Luís de Battenberg. "Fomos recebidos de forma trinfal", escreveu Nicolau "a Ducky [Vitória Melita] e o Ernie foram os nossos anfitriões pela primeira vez. Havia uma guarda de honra, um escolta, iluminações e multidões de pessoas. Comemos a ceia assim que chegámos ao palácio, porque estávamos cheios de fome". A estadia em Darmstadt foi curta. Na manhã seguinte, a família tomou o pequeno-almoço junta e Alix e Nicolau passaram mais algum tempo a responder a telegramas. Visitaram o mausoléu da família no Rosenhöhe, onde estavam sepultados os pais de Alix, e, depois do almoço, houve mais uma sessão fotográfica antes de apanharem novamente o comboio para Coburgo.

Nicolau e Alexandra com a família em Damstadt, Abril de 1894
O casal só passou mais uma semana juntos, rodeado pela família. Inicialmente, o tempo esteve bom e os dois puderam passear, andar a cavalo, visitar o Rosenau e encontrar-se em privado com a rainha. No caso de Nicolau, também houve as missas e cerimónias tradicionais da Páscoa ortodoxa. A sua tia deu-lhe autorização para sair do palácio e ficar numa residência mais pequena e mais perto de Alix, e os dois viram-se tantas vezes quanto foi possível. Além da sua felicidade, Nicolau também falou sobre um novo sentimento no seu diário: "é tão estranho poder passear de carruagem e a pé sozinho com ela, sem me sentir envergonhado de todo, como se isso não tivesse nada de anormal". No entanto, tudo tem um fim. A rainha Vitória partiu para Inglaterra a 28 de Abril, às seis da tarde, e, a 2 de Maio, chegou o dia de Nicolau e Alix se separarem. Ela deixou Coburgo pouco depois do meio-dia, para regressar a Damstadt, e, depois, para ir até Inglaterra, a convite da avó. Ele passou mais algumas horas com a família, antes de apanhar o comboio das nove para a Rússia, sendo o último convidado do casamento a partir. Partiram os dois, cada um com as suas memórias, esperanças e planos, mas uma coisa era certa: iriam lembrar-se de Coburgo durante muito tempo.

Nicolau e Alexandra
Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Chalotte Zeepvat

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Atrás da Imperatriz - A Grã-Duquesa Maria Pavlovna - Segunda Parte

Maria Pavlovna
É muito provável que, por vezes, Maria se sentisse isolada na Rússia, mas não fazia parte da sua personalidade mostrar isso. Em vez disso, dedicou-se à organização de festas luxuosas e caras e fez amizade com membros da comunidade diplomática e outros estrangeiros que viviam na cidade. Foi a primeira senhora da família imperial a receber divorciados no seu salão: os nouveau riche, as pessoas que estavam na moda e os actores, artistas e escritores que Vladimir conhecia na sua posição de presidente da Academia Imperial das Artes, encontravam todos lugar na sua mesa, onde as conversas eram inteligentes e divertidas e, muitas vezes, tinham um certo tom de vingança.

Vladimir Alexandrovich e Maria Pavlovna
Dentro da família imperial, Maria adoptou os ressentimentos do marido e sentia que eles deviam ser também seus. Ninguém podia acusar Maria de facilitar a paz. Vladimir envejava o irmão por ele ser czarevich e ter óptimas perspectivas de chegar ao poder. As sombras desta rivalidade vinham já desde a infância. Em Março de 1855, algumas semanas após a subida do marido ao trono, Maria Alexandrovna contou a uma das suas damas-de-companhia que tinha ouvido uma conversa preocupante entre os seus filhos. Tinha ouvido o czarevich Nicolau a dizer a Vladimir, na altura com cinco anos de idade, "quando fores czar (...)". Maria interrompeu-o. "Sabes perfeitamente que o Vladimir nunca será czar". "Não,  ele vai ser czar", respondeu Nicolau, "o nome dele significa 'governante do mundo'". A mãe dos rapazes explicou-lhes que a sucessão tinha a ver com a ordem de nascimento e não com os nomes, mas Nicolau não desistiu da sua ideia: "o avô era o terceiro filho e tornou-se czar. Eu vou morrer, depois o Sasha vai-me suceder. Mas o Sasha também vai morrer e depois será a vez do Vladimir".

Sasha (o futuro czar Alexandre III) com o seu irmão Vladimir Alexandrovich.
Não passavam de conversas de crianças, mas a czarina ficou arrepiada quando ouviu estas palavras saírem da boca de alguém tão novo. A ideia tornou-se mais séria quando Nicolau morreu mesmo e Alexandre se tornou czarevich. Vladimir ficou mais perto do que nunca de chegar ao trono quando Alexandre anunciou a sua intenção de renunciar ao trono para se casar com Marie Mescherskaya: se tivesse mesmo seguido o seu coração, Vladimir teria ocupado o seu lugar de czarevich e, depois, poderia suceder ao pai como czar. É possível que Vladimir tivesse ressentido o seu azar e, à medida que se foi afastando cada vez mais do trono com o nascimento dos filhos do czar, a sua desilusão deve ter aumentado consideravelmente. Por isso, com o passar dos anos, a relação entre os dois irmãos foi piorando cada vez mais e, quando Maria Feodorovna se juntou à mistura, a brecha tornou-se num precipício. Além de Maria Pavlovna, a esposa de Alexandre era a única mulher jovem na família directa do czar depois de a sua filha partir para Inglaterra quando se casou. Era seis anos mais velha do que Maria Pavlovna e também tinha conseguido estabelecer a sua posição e tornar-se popular. Além disso, não gostava de alemães. Não demorou muito até que as duas jovens, as mulheres que ocupavam a segunda e a terceira posições mais importantes na corte, começarem a sentir uma certa rivalidade uma pela outra.

Maria Feodorvna
Enquanto Alexandre II estava vivo, conseguiu controlar todas as rivalidades na sua família, mas o desconforto que os irmãos sentiam um pelo outro veio à tona na altura do assassinato do pai: quando o czar estava moribundo no seu escritório, foi Vladimir que controlou a situação e deu as ordens necessárias, uma vez que, nos primeiros momentos após a tragédia, o czarevich ficou sem reacção. Desde a infância que tinha sido Vladimir a dominar Alexandre e era provável que pensasse que esse domínio iria continuar. Mas estava enganado. Quando Alexandre III assumiu o poder e a poeira assentou, tornou-se claro que as coisas nunca mais voltariam a ser as mesmas.

Alexandre Alexandrovich e Vladimir Alexandrovich
O novo czar impôs a sua vontade à família, introduzindo uma série de alterações aos Estatutos da Família de modo a redefinir os seus direitos, títulos e até os seus rendimentos. Estas medidas faziam sentido e muita gente as apoiou, no entanto Vladimir era contra elas. Alexandre exigiu lealdade e recebeu-a, pelo menos em palavras, no entanto, é mais fácil desobedecer a um irmão do que a um pai. No dia da coroação de Alexandre, Vladimir foi nomeado comandante das forças militares na zona de São Petersburgo, apesar de não gostar particularmente da vida militar. Embora não houvesse um confronto directo entre os dois, o desconforto que ambos os casais sentiam um pelo outro tornou-se cada vez mais palpável.

Maria Feodorovna e Alexandre III
Vários anos mais tarde, esta fricção iria contribuir para a queda da monarquia, mas na década de 1880, não passava de um tópico divertido para as más-línguas da corte. Em 1888, o comboio imperial descarrilou em Borki quando o czar e a sua família se encontravam a bordo. Alexandre e os três filhos escaparam por pouco. Quando o czar surgiu por entre os escombros, a primeira coisa que terá dito foi: "imaginem qual não vai ser a desilusão do Vladimir". Um ano depois, rebentou um escândalo devido ao desaparecimento de fundos angariados em peditórios públicos para a construção de uma igreja em memória de Alexandre II. Vladimir presidia a comissão responsável pela obra há cinco anos e tornou-se suspeito de estar envolvido no desaparecimento dos fundos. As pessoas chamavam a atenção para as obras de redecoração que estavam a realizar-se no Palácio de Vladimir e os rumores foram-se espalhando. Sem consultar o irmão, Alexandre instaurou um inquérito através do qual se descobriu que o responsável pelo desfalque tinha sido o secretário da comissão que foi a julgamento, mesmo apesar de Vladimir o tentar proteger. Do lado de fora, Maria Feodorovna e Maria Pavlovna iam incentivando os respectivos maridos a levar a sua em diante.

Vladimir Alexandrovich e Maria Pavlovna
As suas diferenças não eram políticas. Vladimir não sentia mais afinidade pelas políticas do pai do que Alexandre, e Maria era tudo menos liberal. Tratava-se mais de uma questão de estilo e feitio. A família imperial, as famílias aristocráticas mais antigas da Rússia e todos aqueles que, tradicionalmente, prestavam serviços à corte, sentiam-se mais próximos de Alexandre III e de Maria Feodorovna. Os Vladimirovich eram mais arrojados e modernos. Durante as suas visitas a Paris e à Riviera Francesa, Maria tinha ganho um certo gosto pelos jogos de apostas e tinha até uma roleta na sua sala privada. As suas festas eram fabulosas e envolviam grandes gastos e preparativos. Na década de 1880, Maria organizou um baile de máscaras que ficou para a história. Para o preparar, Maria requisitou todos os livros relacionados com o tema da Biblioteca da Academia das Artes vários meses antes e exigiu que os seus convidados se vestissem rigorosamente de boiardos antigos. Não gostava nada de caminhar, mas dançava com gosto e entusiasmo e precisava de estar sempre no centro das atenções. Enquanto as pessoas estivessem a admirá-la, ela sentia-se feliz. Quando lhe pediam para receber e proteger alguém mais jovem e de origens mais humildes, era sempre gentil. Uma das filhas da grã-duquesa Olga Constantinovna, a princesa Maria da Grécia e Dinamarca, que visitou a Rússia pela primeira vez na década de 1889, recordou Maria Pavlovna como "a mulher mais charmosa que alguma vez conheci".

Maria Pavlovna
Os críticos diziam que Maria só se interessava pelas coisas boas da vida, mas ninguém se interessava pelo lado mais sério da sua personalidade. A correspondência que trocava com diplomatas e políticos por toda a Europa acabou por lhe causar ainda mais problemas. Alexandre III partilhava com a esposa um desdém pelos alemães enquanto que os Vladimirovich eram vistos como favoráveis ao país. Quando a polícia secreta descobriu que Maria trocava correspondência com Bismark, o czar ficou furioso e obrigou-a a parar de o fazer. Vladimir ficou indignado com a ordem, mas a suspeita de que ela não era leal, ou, pior ainda, uma agente da Alemanha, ficaria associada a ela durante muitos anos e não eram só os russos que acreditavam nessa possibilidade. Em 1884, o seu primo em segundo-grau, o kaiser Guilherme II, visitou São Petersburgo e contou ao seu avô que "a grã-duquesa Vladimir (...) faz maravilhas pela causa alemã".

Maria Pavlovna
Dez anos depois do seu casamento, Maria continuava a ser vista como uma estranha. Parecia desfrutar da sua posição e exercê-la com toda a dedicação. No entanto, há uma pista que mostra que o seu isolamento a magoava profundamente. Nem sequer Vladimir partilhava a sua religião, mas mesmo assim ela desafiava todas as convenções e ia à missa protestante em São Petersburgo sozinha. No entanto, em 1884, Maria ganhou duas possíveis aliadas. Isabel de Saxe-Altemburgo e Isabel "Ella" de Hesse-Darmstadt, casaram-se com membros da família Romanov nesse ano e ambas se recusaram a converter à Igreja Ortodoxa.

Maria Pavlovna rodeada das suas damas-de-companhia
Deve ter sido muito importante para Maria receber estes dois novos membros da família e sentir que elas estavam a seguir os seus passos. Ella foi a que mais se aproximou dos Vladimirovich. Era sobrinha de Maria Alexandrovna e conhecia Maria e Vladimir desde que nascera. Devia lembrar-se de como a sua mãe, a princesa Alice, tinha defendido Maria Pavlovna quando ela tinha decidido manter a sua religião. No entanto, em 1891, sete anos depois do casamento, Ella decidiu converter-se à Igreja Ortodoxa e uma das suas maiores preocupações foi não magoar Maria. Pediu mesmo ao pai para manter a notícia em segredo até que ela tivesse oportunidade de comunicar a sua decisão pessoalmente a Maria uma vez que "ela vai ficar muito triste, mas quero que ela saiba antes que se comece a falar muito nisto, para que a magoar o menos possível". No entanto, Maria ficou mesmo magoada e sentiu-se traída. Nunca perdoou Ella pela sua decisão.

Isabel Feodorovna
Era raro uma grã-duquesa mostrar-se tão vulnerável. A adolescente obstinada que tinha brincado com o pobre Jorge de Schwarzburg tinha-se tornado uma das jogadoras mais dinâmicas e interessantes no palco real, com contactos por toda a Europa. Na posição de segunda dama mais importante da corte, estava atrás da czarina em ocasiões oficiais, mas a sua corte era o local que estava mais na moda na altura. No entanto, durante a década de 1890, as coisas começaram a mudar. Os três filhos do czar, Nicolau, Jorge e Miguel estavam a crescer e, se os acontecimentos se desenrolassem como seria de esperar, o mais provável era casarem. Quando o fizessem, a posição de Maria iria perder importância. Esse era o maior medo e o que mais a preocupava.

Maria Pavlovna em 1895
A não ser que... Maria Feodorovna era uma mãe possessiva que não iria gostar de partilhar os filhos quando chegasse a altura de se casarem. Se, no futuro, Maria conseguisse atrair a esposa do czarevich para o seu circulo, orientar os seus primeiros passos na sociedade russa, poderia dar um significado completamente diferente às palavras "atrás da imperatriz".

Nicolau II, Maria Pavlovna, Vladimir Alexandrovich e Alexandra Feodorovna
Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Atrás da Imperatriz - A Grã-Duquesa Maria Pavlovna - Primeira Parte

A família imperial russa em 1892

No início do século XIX, a Rússia não estava habituada a ter uma família real. Paulo foi o primeiro czar desde do século XVII a ter uma grande família e foi ele que definiu os Estatutos da Família que estabeleceram a ordem de sucessão, a religião e os casamentos dos seus descentes, algo que lhes viria a causar muita mágoa no futuro. A Revolta Dezembrista colocou os estatutos à prova pela primeira vez: depois de suceder ao trono de uma forma incerta, Nicolau I estava determinado a unir os seus filhos como se se tratassem de uma unidade disciplinada ao serviço da coroa. Um a um, à medida que foram chegando à idade adulta, os seus filhos foram chamados para prestar o Juramento de Lealdade, anunciando a sua fidelidade ao czar perante representantes do governo, da igreja e do exército - e cada um deles proferiu as palavras com sentimento. Nicolau criou uma família unida, impondo a sua autoridade. Alexandre II fortaleceu os laços entre si e os seus irmãos instituindo reuniões de família regulares que, aos poucos, foram atraindo uma nova geração para a "firma". Também fez questão de ter uma boa relação com os filhos dos seus irmãos. No entanto, as mulheres que entravam na família por casamento eram mais difíceis de dominar: o caso amoroso e o segundo casamento de Alexandre fizeram com que todas elas se afastassem e não temos forma de saber como seria a relação da família caso o czar não tivesse sido assassinado tão pouco tempo depois do casamento. No entanto, essa morte trouxe uma mudança ainda mais importante. Pela primeira vez, havia uma geração mais velha de príncipes Romanov, comprometidos por juramento a ser leais ao seu jovem sobrinho. Foi durante o reinado de Alexandre III que começaram a surgir as primeiras fissuras na unidade familiar que tinha sido criada pelo seu avô. A forma como tratou o grão-duque Constantino Nikolaevich mostrou a falta de confiança que tinha nos tios e, pior ainda, com o passar do tempo, também a sua relação com o seu irmão Vladimir começou a ser questionada. Vladimir era esperto e ambicioso e alguns diziam mesmo que tinha sido o filho favorito do seu pai. Logo desde a sua infância que a família sentia que Vladimir estava destinado a grandes feitos: o potencial para surgirem ciúmes e ressentimentos sempre esteve presente, mas só floresceu verdadeiramente quando ele se casou com uma princesa com um nível de ambição parecido com o dele. Ao recordar de forma incrível a corte de São Petersburgo, a rainha Maria da Roménia descreveu com as seguintes palavras o motivo pelo qual a sua tia 'Miechen', a grã-duquesa Maria Pavlovna da Rússia, era inesquecível:

A grã-duquesa Maria Pavlovna da Rússia
"Logo atrás da imperatriz [Maria Feodorovna] vinha a tia Miechen, mais deslumbrante do que um pôr-do-sol, com um vestido laranja bordado a ouro. Sempre que se mexia, as pérolas em forma de pêra no seu diadema balançavam graciosamente para trás e para a frente. Não era magra o suficiente para as linhas clássicas dos vestidos, mas veste as roupas melhor do que qualquer outra mulher presente. Os ombros dela eram sublimes e brancos como creme. Tinha um ar de inteligência que mais ninguém conseguia mostrar".

A grã-duquesa Maria Pavlovna (dir.) com a grã-duquesa Anastásia Mikhailovna na coroação de Nicolau II em 1896.
As palavras mais reveladoras nesta descrição são "atrás da imperatriz". Foi essa a posição que Maria ocupou e ressentiu durante grande parte da sua vida adulta. Algumas pessoas parecem nascer para ocupar uma posição mais importante do que aquela que o destino reserva para elas. Quando sentem esta limitação, os resultados podem ser desastrosos. A grã-duquesa Maria Pavlovna era uma dessas pessoas. Determinada, inteligente e imperial, teria sido uma imperatriz impressionante. Não foi feita para ser a esposa do segundo filho.

Maria Pavlovna com o marido, o grão-duque Vladimir Alexandrovich e os seus quatro filhos: Cyrill, Boris, André e Helena.
"Miechen" nasceu como duquesa Maria de Mecklemburgo-Schwerin, na primavera de 1854. Nasceu em Ludwigslust, uma residência de campo que ficava a sul da capital do grão-ducado. O ducado era um local calmo e rural que ficava na costa norte da Alemanha. Anos mais tarde, uma das cunhadas de Maria, a rainha Guilhermina dos Países Baixos [casada com o seu meio-irmão Henrique de Mecklemburgo-Schwerin], descreveu o território da seguinte forma: "com pouca gente, cheio de colinas e lagos, campos de milho e florestas". O ducado de Mecklemburgo-Schwerin que Guilhermina conheceu era hostil para com os seus vizinhos prussianos, mas, durante a infância de Maria, foi precisamente a influência prussiana que a dominou, algo que não é de admirar, tendo em conta que o verdadeiro poder em Schwerin estava nas mãos da formidável grã-duquesa viúva Alexandrina, irmã do rei da Prússia. Alexandrina dominava o seu filho, o grão-duque Frederico Francisco II, e deu estabilidade à sua neta, que teve uma infância cheia de tragédias. As duas tinham muitas parecenças. Alexandrina era uma mulher orgulhosa, abençoada com uma confiança absoluta em si mesma e na verdade das suas opiniões. Conseguia ser encantadora, mas, se alguém se metia no seu caminho, era absolutamente cruel.

Alexandrina da Prússia, avó paterna de Maria Pavlovna.
Maria foi a primeira filha do grão-duque. Antes, ele e a sua esposa, a princesa Augusta Reuss-Kostritz, tinham tido dois filhos: Frederico Francisco e Paulo Frederico e, depois de Maria, tiveram ainda mais dois rapazes, um dos quais morreu ainda pequeno. Maria perdeu a mãe quando tinha apenas sete anos de idade. As más-línguas disseram que o grão-duque recuperou da sua dor incrivelmente depressa e. pouco depois, já estava à procura de uma nova esposa. Durante algum tempo, parecia que os seus filhos teriam como madrasta a princesa Maria de Cambridge, que, mais tarde, se tornaria duquesa de Teck, mas nada aconteceu. Depois, em Maio de 1864, dois dias antes de a sua filha completar dez anos de idade, o grão-duque casou-se com a princesa Ana de Hesse-Darmstadt, sobrinha da czarina Maria Alexandrovna [e tia da futura imperatriz Alexandra Feodorovna].

Frederico Francisco II, pai de Maria Pavlovna, com a sua segunda esposa, a princesa Ana de Hesse-Darmstadt.
Tal como Maria, Ana era a única filha no meio de uma família de rapazes. Todos a adoravam, mas a princesa teve pouco tempo para causar impacto na sua nova família, uma vez que morreu ao dar à luz onze meses depois do casamento e seriam precisos mais quatro anos até o grão-duque conseguir encontrar uma nova mãe para os seus filhos. Durante esses anos, muito aconteceu na Alemanha. Enquanto a maioria dos príncipes alemães apoiou a Prússia com grande relutância durante a Guerra Austro-Prussiana de 1866, ou recusaram dar o seu apoio de todo, Frederico Francisco era um fervoroso apoiante de uma Alemanha unida sob a liderança da Prússia. Esta atitude causou ressentimento entre os seus vizinhos, mas ficar do lado vencedor fez com que Frederico preservasse o seu ducado e deu à sua família uma nova confiança e posição. No verão de 1868, o grão-duque casou-se pela terceira vez, desta vez com a princesa Maria de Schwarzburg-Rudolstadt, que era apenas quatro anos mais velha do que a sua filha.

Maria de Schwarzburg-Rudolstadt, a segunda madrasta de Maria Pavlovna.
A nova grã-duquesa era gentil e descontraída. Sem o orgulho e auto-estima da sua sogra, os seus gostos eram simples e impunha poucas regras na sua casa. Não existem registos do que ela pensava dos seus enteados nem do que eles pensavam dela, mas foi a sua chegada à família que quase decidiu o futuro de Maria. Em inícios de 1871, a princesa-herdeira da Prússia visitou Schwerin e reparou que estavam a decorrer negociações entre as famílias de Mecklemburgo e Schwarzburg. A 27 de Maio escreveu à rainha Vitória: "De certeza que já ouviste dizer que a Maria de Schwerin está noiva daquele idiota do Jorge de Schwarzburg (...) já foi anunciado oficialmente e foi tudo por cabeça dela. Ele parece-se mais com um ganso do que nunca". O "grande ganso" era o príncipe reinante de Schwarzburg-Rudolstadt, um primo em segundo grau da madrasta de Maria. Ele tinha trinta-e-três anos e Maria tinha acabado de fazer dezassete.

Maria Pavlovna em 1865
Os eventos que se seguiram ao longo dos anos seguintes colocaram Maria nas bocas de toda a realeza europeia. A ideia de se casar com Jorge de Schwarzburg tinha sido dela, mas, poucas semanas depois, foi também ela que decidiu romper o noivado depois de ter surgido uma oportunidade melhor. O grão-duque Vladimir Alexandrovich, terceiro filho do czar da Rússia, tinha vinte-e-quatro anos de idade, era culto, inteligente e possuía uma grande fortuna. O seu gosto exagerado pelas coisas boas da vida tinham prejudicado a cintura do grão-duque, mas ele continuava a ser atraente e, em Junho, fez uma visita à Alemanha com a sua família. Maria ficou impressionada e o pobre Jorge de Schwarzburg acabaria por ficar solteiro o resto da vida.

Maria Pavlovna em 1872
A grã-duquesa viúva pode ter tido alguma influência nesta mudança de opinião: se a princesa-herdeira da Prússia tivesse razão, Jorge não era um grande partido. Alexandrina tinha grandes ambições para a sua família e sentia uma simpatia profunda pela Rússia e tia-avó de Vladimir [a sua irmã mais velha, Alexandra Feodorovna, nascida Carlota da Prússia, era esposa do czar Nicolau I]. No entanto, romper um noivado era um passo perigoso. Toda a gente ficou a saber que Maria estava interessada em Vladimir, no entanto o anúncio do noivado tardava em chegar.

Vladimir Alexandrovich
Quando chegou o ano novo, a jovem duquesa foi considerada novamente "disponível". Em Janeiro de 1872, a rainha Vitória estava preocupada com essa ideia, uma vez que o seu filho favorito, o príncipe Artur, estava prestes a viajar até à Alemanha para conhecer princesas adequadas para se casar. Estaria em segurança? A rainha deu instruções muito claras ao seu tutor. Segundo ela, dizia-se que Maria "era muito bonito, mas também uma grande coquette que deitou fora a oportunidade de se casar com um príncipe de quem estava noiva para tentar conseguir um grão-duque russo. É bem possível que tente apanhar o príncipe Artur, mas não deve ser considerada". Chegou a primavera e depois o verão e mesmo assim o noivado com Vladimir ainda não era oficial, apesar de ele também estar interessado em casar-se com ela. Em Novembro, a princesa Alice contou à rainha Vitória o motivo: "a imperatriz da Rússia acabou de me escrever a informar-me que o noivado com a Maria de Mecklemburgo é completamente impossível uma vez que ela não quer mudar de religião. Espero que todas as outras princesas alemãs lhe sigam o exemplo".

Maria Pavlovna com a sua irmã mais nova, Ana, que morreu antes de chegar à idade adulta.
A determinação que se iria destacar em Maria muitos anos depois já se começava a notar. Depois de ter desistido da possibilidade de se tornar numa princesa reinante, ainda que de um principado menor, para ficar com Vladimir, agora mostrava que apenas o iria fazer se a união fosse realizada segundo os seus próprios termos. Teve de esperar quase dois anos: 1873 chegou e passou e parecia cada vez mais impossível chegar a um acordo. No entanto, com o chegar de uma nova primavera, os muros começaram finalmente a ruir. Alexandre II escreveu ao grão-duque Frederico Francisco a dar a sua permissão para que Maria se casasse com o seu filho. Depois de abrir uma excepção aos rigorosos estatutos da família Romanov, o czar deu também permissão para que Maria mantivesse a sua religião luterana sem que Vladimir perdesse os seus direitos de sucessão ao trono. (Actualmente, alguns membros da família Romanov contestam esta versão dos acontecimentos e afirmam que os seus parentes mais velhos lhes contaram que Vladimir assinou um documento secreto de renuncia ao trono para se poder casar com Maria. No entanto, nunca surgiu nenhuma prova de que tal tivesse mesmo acontecido). O noivado foi anunciado em 1874 e foi muito bem recebido na Alemanha, onde a atitude forte de Maria foi vista como uma grande vitória. As filhas mais velhas da rainha Vitória concordavam com essa opinião, mas mostravam também uma certa cautela. Alice tinha discutido o assunto com a mãe de Vladimir e tinha a certeza que a czarina tinha cedido à ideia do noivado contrariada. A princesa-herdeira previu que a situação iria acabar em conflito: "Não acho que o casamento da Maria de Schwerin com o Vladimir tenha grandes hipóteses de ser feliz", escreveu ela, "e ser de outra religião num país tão preconceitoso vai, sem dúvida, dificultar-lhe muito a vida". 

Fotografia do noivado entre Maria e Vladimir
É possível que o próprio czar tivesse as suas dúvidas. A sua decisão não foi popular dentro da família nem na sociedade. Ninguém queria que os seus adorados costumes e tradições fossem contrariados por uma jovem estrangeira. Vladimir e Maria casaram-se no Palácio de Inverno em Agosto e, provavelmente, não foi por acaso que a cerimónia se realizou no pico do verão. O embaixador britânico na Rússia, Lord Augustus Loftus, escreveu que "nesta época do ano, a cidade está praticamente deserta e, por isso, só vieram [ao casamento] aqueles que eram obrigados". A irmã de Vladimir, a grã-duquesa Maria Alexandrovna, tinha-se casado com o príncipe Alfredo do Reino Unido sete meses antes e Lord Augustus comparou as duas cerimónias de forma bastante desfavorável. Até a cerimónia protestante, pela qual Maria tanto tinha lutado, "pareceu muito aborrecida, quando comparada com a magnifica missa russa. Felizmente, não durou muito tempo".

A grã-duquesa Maria Pavlovna pouco depois da sua chegada à Rússia.
No entanto, apesar de tudo, o embaixador mostrou grande admiração pelo mais recente membro da família imperial. "A jovem grã-duquesa é uma personagem superior. Não é muito bonita, mas é extremamente intelectual e com um porte gracioso e digno. No Te Deum pelo aniversário do imperador, permaneceu sempre erecta enquanto todos os outros se ajoelhavam e faziam o sinal da cruz. Aqui é uma surpresa uma princesa estrangeira casar-se com um grão-duque e manter a sua religião, mas é um processo ao qual se terão de habituar, senão, em breve, não haverá esposas para os grão-duques russos".

Maria Pavlovna
Maria tinha chegado a São Petersburgo com a determinação de enfrentar a hostilidade de frente e com a cabeça erguida. Havia um tom de desafio até no patronímico que escolheu: "Pavlovna" era uma homenagem não só ao seu avô, o grão-duque Paulo Frederico de Mecklemburgo-Schwerin, mas também ao avô dele, o czar Paulo I da Rússia. O nome era uma lembrança constante de que Maria era também uma descente directa dos governantes mais poderosos da Rússia. A grã-duquesa considerava-se igual em estatuto ao marido e o resto da família costumava até dizer que ela era uma eslava mais autêntica do que eles, devido às origens eslavas da sua família. Segundo um amigo, o príncipe von Bulow, Maria achava piada ao antigo rumor de que o seu marido, os irmãos e a irmã dele não eram, na verdade, descendentes do grão-duque de Hesse-Darmstadt, mas sim de um dos seus oficiais da corte.

Vladimir Alexandrovich e Maria Pavlovna
No entanto, o casamento em si valeu a pena toda a luta. Quando era solteiro, Vladimir tinha fama de playboy, mas a sua personalidade e a de Maria eram muito semelhantes e o escândalo nunca tocou a sua relação. Eram felizes e, inicialmente, Maria adoptou com prazer o estilo de vida sumptuoso do marido: Vladimir foi o primeiro grão-duque a levar a sua esposa directamente para um palácio construído de propósito para ela. Na barragem do Neva, o local mais prestigiante de São Petersburgo, tinha mandado construir o Palácio de Vladimir, o edifício novo mais luxuoso da capital, com todas as funcionalidades mais recentes, decorado em grande. Poucas semanas depois de se instalar, Maria tinha já encomendado novas fardas de verão vermelhas para os criados.

Maria Pavlovna
No Natal, o casal encontrava-se em Czarskoe Selo, onde ficou durante algum tempo antes de regressar à cidade para uma ronda de festas que lhes ocupou o ano até à Quaresma. Nessa altura, Maria começou a sentir os sintomas da sua primeira gravidez e, em Julho, a sua avó viajou até São Petersburgo para assistir ao parto. O bebé, um rapaz, nasceu de boa saúde em Czarskoe Selo em finais de Agosto e recebeu o nome de Alexandre em honra do seu avô, o czar. Embora muitos membros da família continuassem a tratar Maria friamente, o seu sogro sempre a tratou com grande carinho e ela nunca o esqueceria.

Maria com o seu filho Kyrill
Em Outubro de 1876, Maria deu à luz o seu segundo filho, Kyrill, no entanto, pouco tempo depois, seguiu-se uma tragédia: o pequeno Alexandre morreu em Março de 1877. Como forma de a compensar, discretamente, o czar Alexandre II nomeou-a chefe do 37.º Regimento de Infantaria. Maria sabia cavalgar muito bem e gostou da oportunidade de participar na inspecção das tropas com o marido. Antes do final do ano, deu à luz o seu terceiro filho, Boris, e dois anos depois, um quarto filho, André. A sua única filha, Helena, nasceu em 1882. Os seus quatro filhos eram crianças bonitas e os pais sentiam-se imensamente orgulhosos deles. A cada dois ou três anos, costumavam levá-los até Schwerin. Kyrill recordou mais tarde uma ocasião na qual a grã-duquesa Alexandrina se vestiu de gala, sem esquecer as suas ordens e medalhas, para jantar com as crianças no berçário, tratando-o a ele e aos irmãos como se fossem monarcas estrangeiros numa visita de estado. Maria fortaleceu os laços entre as duas famílias quando apresentou o seu irmão mais velho, Frederico Francisco, a uma das primas de Vladimir, a grã-duquesa Anastásia Mikhailovna. Os dois casaram-se em 1879.

Maria Pavlovna com o seu irmão Frederico Francisco.

Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat